Tereza Tancredo: a vereadora dos pobres
Thiago Henrique Augusto, pesquisador do Cedoch
“Certa noite, um varão veio até a nossa lar e me disse: ‘Há uma família com oito crianças. Estão sem consumir há muitos dias’. Peguei um pouco de comida e saí. Quando encontrei a família, vi que o rosto daquelas crianças estava desfigurado pela penúria. Não havia mágoa ou tristeza no rosto delas, somente o sofrimento da míngua. Dei o arroz para a mãe. Ela dividiu o arroz em duas partes e saiu, levando metade do arroz. Quando voltou, perguntei a ela: ‘aonde você foi?’. Ela respondeu somente: ‘ali nos meus vizinhos. Eles também estão com penúria”. (Matriz Teresa de Calcutá)
A FILHA DE JOSÉ DOMINGOS E MALVINA DE JESUS
Therezinha da Silva Oliveira nasceu em 16 de novembro de 1937, filha de José Domingos da Silva e Malvina de Jesus. Nasceu em uma cidade, ou talvez vila, chamada Gmirim (sim, Gmirim), que hoje pertence ao município de Machado, Minas Gerais. A humildade sempre esteve presente em seu lar, seus irmãos, Gessy, Geni, Odante, Olavo, Odete, Jair, Geraldo, José e Joviano, nasceram no mesmo lar e na mesma e humilde miséria.
Humildade, esforço, clemência, força de vontade, resistência e resiliência, já se assentavam no que seria o seu papel, ou melhor, o seu brilhantismo e o seu pináculo.
Órfã aos 5 anos de idade, tendo ainda uma tenra idade, uma moçoilo, porém com inúmeras responsabilidades, acompanhou as suas irmãs, Geni e Gessy, que já moravam em Mogi Mirim, pois cá poderia encontrar trabalho e um primícias. De início, começou porquê empregada doméstica na residência do Sr. Dr. Olimpio, médico, que, assim porquê Tereza, tinha origem em Machado.
Nem todo prelúdios é fácil, nem todos os caminhos são flores, algumas vezes é preciso colher espinhos, para depois colher flores e assim foi com Tereza Tancredo. Ser menor de idade, num tempo que o trabalho infantil era “legítimo”, custou-lhe um preço, primeiro a hospedagem tornou-se uma dívida e logo depois vieram as tarefas árduas, logo depois foi trabalhar porquê babá, onde permaneceu por 3 anos.
Aos 10 anos de idade, seguiu para São Paulo para morar com a sua mana Gessy que havia se mudado para lá. A sua mana passava por problemas de saúde e Tereza saiu de Mogi Mirim com rumo a São Paulo para cuidar da debilidade da sua mana até o final da sua vida. Dois anos depois, retornou para Mogi Mirim, onde começou a trabalhar na lar da professora Giselda Adorno, onde, segundo palavras do seu fruto, Dimas Oliveira, foi acolhida com afeto, paixão e condolência.
Dali, saiu para matrimoniar e iniciar o que seria um feliz para sempre, mas, muitas vezes a história suplente episódios decepcionantes, inesperados e cheios de problemas com pessoas que amamos.
Do seu casório com o contador Tancredo Augusto de Oliveira, nasceram Antonia, Benedito, Dimas, José Luiz, Moisés e Josué. Em meados de 1960, o seu marido perdeu o controle sobre o consumo de álcool e os problemas, que já existiam, passaram a ser maiores. Com os filhos a cuidar e os recursos sendo consumidos pelo alcoolismo, Tereza voltou a trabalhar para ajudar os seus filhos e a renda familiar, até que um susto bateu sobre o seu teto, seu marido abandonou o lar para nunca mais retornar.
Dali em diante, passou a ser mãe, pai, trabalhadora e abraçou a pretexto em prol e ajuda aos que pouco tinham o que consumir. Tereza Tancredo trabalhou na fábrica Peixe, situada no bairro Santa Luzia, e porquê cozinheira na lar de famílias.
SOPA E PÃO AOS QUE TÊM FOME
Os seus filhos sempre foram o motivo do seu orgulho, trabalhou arduamente em prol destes. Em 1982, o seu fruto Benedito obteve o diploma universitário, assim porquê os demais que começavam a se encaminhar trabalhando nas indústrias instaladas na cidade.
Por volta de 1983, Tereza começou um novo capítulo na sua história. Com o pouco que tinha de mantimentos na sua residência, passou a destinar uma secção aos mais humildes e, a partir daquele momento, passou a abraçar com mais afinco e paixão a culpa ao próximo, aos que passam lazeira e necessidades.
Conhecedora de muitas pessoas, começou com algumas poucas e, em simultâneo, foi incentivando outras a ajudá-la na produção de sopa em sua residência. De início, a produção e a entrega eram realizadas em sua moradia. Em tão breve tempo, o número de pessoas em procura de um prato de sopa foi crescendo, tornando a sua morada cada vez mais pequena. No entanto, com a ajuda da coletividade mogiana, amigos e o Sr. Sidney Hugo de Roble, era oferecido o início do que seria uma sede que levaria o nome de Mansão da Sopa/Equipotência.
O engenheiro Sidney Hugo de Roble doou um terreno para que fosse construída a futura Morada da Sopa. Segundo ata de doação, em 1º de junho de 1985, era fundada a Morada da Sopa. Segundo o documento, a Morada da Sopa seria, a partir daquele momento, um congregado talhado desde ao “mais humilde trabalhador até o mais ilustre” e, também, talhado à “mulher do lar e às mulheres damas, moças e moços, todos num envolvente de simetria e amizade”.
Era, portanto, perceptível a teoria de alojar a todos de “ambos os sexos, crianças e idosos, sem realce de cor, raça, exigência social, credo político ou religioso”. Tereza Tancredo inaugurou mais um novo capítulo na sua história, o capítulo que a levaria ao píncaro mais proeminente.
CASA DA SOPA/ EQUIPOTÊNCIA: “AMOR E CARIDADE”
Fundada em 1985, sem fins lucrativos, vedando qualquer remuneração a seus representantes nos cargos de diretoria, assim porquê os seus bens que seriam aplicados e para uso na sede e em favor ao próximo. No mesmo dia da sua instalação, realizada na residência de Maria Conceição Godoy Pelegrino, foram empossados o presidente e os diretores. Por unanimidade, foi eleito, porquê primeiro presidente, Dimas Augusto de Oliveira, fruto de Tereza Tancredo.
O mesmo, em brevíssimas palavras (porquê sempre o foi, além de um ser humano esplêndido, que tive o laurel de saber e conviver), agradeceu em nome de todos e pela crédito no duelo, demais, pediu humildemente união e ajuda aos Poderes Municipal, Estadual e Federalista para recursos necessários aos custeios da entidade. Por término, afirmou que o lema principal da instituição a partir daquele momento seria o “Paixão e a Filantropia”.
No folhetim da instituição “Aproveitando Sobras, amenizando necessidades”, no qual eram descritos os projetos da entidade e os futuros sonhos que a entidade planejava, destacava-se a amplitude do projeto idealizado por Tereza na entrega de sopas. No mesmo, é descrito que eram distribuídas, semanalmente, mais de 1.200 litros de sopa para consumo, distribuídos na sede e nos bairros pobres da cidade, projeto esse que levava o nome de “Alimento é Sopa”.
Para preparação destas sopas, semanalmente, voluntários, amigos e demais percorriam supermercados e quitandas, assim porquê comércios alimentícios pedindo doações. Em seguida recebido, os legumes e as verduras eram selecionados para devidas lavagem, limpeza e logo encaminhados para o preparo. Uma vez prontas, as sopas eram distribuídas em vasilhas higienizadas para famílias retirarem.
Além da entrega de sopas, outros projetos também foram realizados, tais porquê: Conforto do bebê, Oficina de Trabalho, Leitura e Desenvolvimento. Mesmo com recursos tão escassos, na sua maioria vindos de doações, a entidade, uma vez ao mês, realizava o “Almoço dos Vovôs”. Recordo-me profundamente e emocionalmente desses almoços, eu era praticamente uma moço que acompanhava a minha mãe e a minha avó (ambas voluntárias). Ali recordo-me de grandes, sim, grandes pessoas que se esforçaram para que eventos porquê nascente fizessem a alegria de muitos idosos.
Para esses vovôs e vovós, estes eram momentos de conversas, risadas, fotos e até mesmo reencontro, pois muitos que ali estavam foram esquecidos por seus familiares. Tenho a certeza que estes momentos foram uma secção importante e significativa na vida desses idosos, pois poderia ser seu último evento, portanto, que fosse um momento da partilha, da alegria, do afeto, do paixão e do perdão. Recordo-me dos vários rostos, sei que não estão mais vivos, logo fica cá o mais singelo ato de paixão e presente. A bênção a todos os vovôs e vovós.
Tudo isso aconteceu muito pela ajuda do próximo, ajuda essa de voluntários, de doações, de eventos realizados na entidade, porquê chás, pizzas e bingos. Voluntários dedicaram-se e ainda se dedicam em prol do que acreditam e pelo paixão ao próximo, sem zero querer em troca, provavelmente, sempre norteados pela luz da filantropia, do paixão e por confiar que Tereza Tancredo estava certa, sim, certa em manifestar que o paixão e a ajuda ao próximo são realizações que nenhum moeda do mundo pode remunerar.
A bênção a todos os voluntários de ontem, de hoje e dos próximos. A bênção por acreditarem piamente nas palavras e nas ações de Tereza Tancredo.
LEGISLADORA DOS POBRES E PRIMEIRA
Tereza Tancredo, antes mesmo de imaginar que se tornaria vereadora no município, já era uma conhecedora de muitos, o seu papel na ajuda ao próximo angariou inúmeras amizades, dentre esses alguns políticos. Mogi Mirim não tinha nenhuma mulher representante na câmara dos vereadores. Tereza candidatou-se para o função de vereador pelo Partido Trabalhista Brasiliano (PTB) no pleito de 1988, um ano eleitoral um tanto atípico, conforme indecisões da novidade Constituição, assim porquê, o número exato de vereadores (finalmente, segundo decisão do TSE, o número deixaria de ser 17 e passaria a ser 9).
Foi eleita com 440 votos, vindo a ser uma das três primeiras mulheres a compreender pela primeira vez na história do município o incumbência de vereador. Uma vez empossada, passou a ser conhecida porquê legisladora dos pobres. Participou ativamente na elaboração da Lei Orgânica do Município, onde a sua presença foi importante, pois influenciou na lei que determinaria que certa porcentagem anual fosse talhado às instituições filantrópicas. Houve até mesmo questionamentos acerca da obrigação do Poder Municipal, se teria obrigação ou não, se seria ou não constitucional.
Mais do que estar entre as primeiras, nos 26 meses que permaneceu no incumbência, destinou os seus proventos para a compra de remédios, cobertores, material escolar e comida aos necessitados. Dizia que “o quantia que é do povo tem que voltar para o povo”, renunciou à própria existência em prol dos que passam penúria e premência, a bênção vereadora dos pobres.
O dia 10 de março de 1991 foi o dia que finalizaria a sua história. Antes do fatídico dia, Tereza havia sofrido um derrame cerebral, que tinha afetado algumas funções, vindo a se alongar das suas funções na Câmara dos Vereadores por 60 dias. Passou algumas semanas internada, ao que consta foram duas semanas. Infelizmente, na madrugada do dia 10, a mesma já na sua residência, por volta das 5h da madrugada, o seu quadro de saúde piorou e a vereadora morreu a caminho da UTI.
O corpo não foi velado nas dependências da Câmara dos Vereadores, já que anteriormente havia dito que, caso isso acontecesse, muitos dos seus amigos não iriam vê-la, já que muitos eram pessoas simples. O seu corpo foi velado no Velório Municipal, onde além da presença de familiares, vereadores, autoridades, também de amigos e pessoas que o admirava. Consta que aproximadamente milénio pessoas foram ao seu enterro, muitos portando flores em gratulação.
Tereza Tancredo foi enterrada sob uma chuva de aplausos, choros e eternas saudades. Segundo o seu fruto José Luiz de Oliveira, um dos últimos pedidos da sua mãe foi de manter o trabalho de ajuda aos mais carentes.
UM LEGADO AD AETERNUM
Nas palavras da pesquisadora Antonia Marchese, “hoje, com o passar do tempo, e sem a presença de sua saudosa fundadora já não distribuem mais sopas, mas prestam assistência de outras formas. Conseguiram transformar um outro sonho dela em veras e retirar crianças das ruas” e mais “amparam as famílias em situação de vulnerabilidade social”. Hoje, 37 anos depois, a memória de Tereza Tancredo continua viva.
Em seguida o seu projeto continuar de pé, o seu esforço não foi em vão, os dias ruins somente reforçaram o que ela tinha guardado dentro do seu coração, enfim são os dias ruins que dirão quem nós somos, no caso dela, os dias ruins tornaram-se sonhos e sonhos tornaram-se galardões.
Hoje, a entidade continua localizada no mesmo lugar, na Rua Nelson Vital do Prado, 108, Jardim Helena, região Setentrião. passou, pessoas passaram, pode até ser que não haja mais distribuição de sopas, finalmente, de 1985 até 2003, foram distribuídas uma média de 180 unidades de marmitas para famílias vulneráveis. Porém, em 2004, a sopa foi substituída pela entrega de cestas básicas, aproximadamente 2.900 kg de mantimentos para famílias.
Em 2008, a entidade passou a atender famílias no Programa Pró-Jovem, administrando cursos de geração de trabalho e de renda, por meio de parceria com a Prefeitura, passando, em 2010, a atender, além destas famílias, também crianças e adolescentes. Nos anos de 2014, 2015, 2016 e até os dias atuais, a entidade passou a atender alunos da rede municipal de ensino, do 1º ao 5º ano, com atividades educacionais, contribuindo, assim, com a qualidade do estágio, com o letramento e com a leitura dos alunos.
Tereza Tancredo foi-se, mas seu legado permanece. Vários presidentes tiveram a honra de comandar esta mansão, a bênção a todos. Homens e mulheres passam, mas seus legados permanecem, o maior laurel é fazer sem querer zero em troca e todos que passaram por esta moradia fizeram sem zero querer em troca. Fico imaginando porquê seria se Tereza estivesse viva nos dias atuais, nesta veras cada vez mais desesperadora. Cresce o número de pessoas passando inópia, estamos num estado de extrema miséria, no qual, pessoas estão se alimentando de ossos, pergunto-me, o que Teresa estaria fazendo por essas pessoas?
Num país onde pessoas se desesperam em lixões, se alimentam de ossos, mendigam nas ruas e vielas, em pontes e semáforos, e, por outro lado, autoridades executivas esbanjam gastos astronômicos, sim, astronômicos e faraônicos, com recta a cartões corporativos gastos em milhões, cartões esses nababescos. Cadê você, Tereza Tancredo, em tempos de penúria, em tempos de miséria explícita, cadê aquele prato de sopa e um pedaço de pão?
Oremos por mais Terezas, porque Tereza Tancredo foi um exemplo de paixão e de ser humano. A bênção Tereza Tancredo, a sua memória permanecerá para sempre, o seu nome estará sempre no altar mais cimeira e digno que um ser humano pode ter a honra de estar. Onde quer que esteja, olhe e ore por nós, a bênção, Therezinha da Silva Oliveira.
FONTES DE PESQUISA
Jornal A COMARCA de 1988, 1989 e 1991
Atas, folhetins, portal da entidade
Sainte Mère Teresa. La Biographie de Référence – Navin Chawla
Documentos fornecidos pela família
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