Produtor norte-americano transforma em ouro filmes de terror de baixo orçamento

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Responsável por filmes como "Atividade Paranormal" e "Uma Noite de Crime", Jason Blum atrai atores e diretores famosos ao oferecer divisão dos lucros

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À primeira vista, não existe nada particularmente especial em Jason Blum, 44 anos. Ele faz filmes de terror de baixo custo que venderam muitos ingressos. Os produtores vêm enriquecendo com esta fórmula há décadas: enxague (o sangue falso) e repita.

Imagem do filme 'Uma Noite de Crime' (2013)

Imagem do filme 'Uma Noite de Crime' (2013)

Foto: Divulgação

Imagem do filme 'Sobrenatural: Capítulo 2' (2013)

Imagem do filme 'Sobrenatural: Capítulo 2' (2013)

Foto: Divulgação

Imagem do filme 'A Entidade' (2012)

Imagem do filme 'A Entidade' (2012)

Foto: Divulgação

Imagem do filme 'Atividade Paranormal 4' (2012)

Imagem do filme 'Atividade Paranormal 4' (2012)

Foto: Divulgação

Cena do filme 'Atividade Paranormal 3' (2011)

Cena do filme 'Atividade Paranormal 3' (2011)

Foto: Divulgação

Imagem do filme 'Atividade Paranormal 2' (2010)

Imagem do filme 'Atividade Paranormal 2' (2010)

Foto: Reprodução

Imagem do filme 'Atividade Paranormal' (2007)

Imagem do filme 'Atividade Paranormal' (2007)

Foto: Divulgação

Porém, comece a somar os números e Blum se torna interessante em um segundo. Nos últimos cinco anos, com custos de produção totalizando meros US$ 27 milhões (R$ 60,6 milhões), sua empresa, Blumhouse Productions, lançou oito filmes de terror – incluindo "Atividade Paranormal", "A Entidade" e "Uma Noite de Crime" – que abocanharam US$ 1,1 bilhão (R$ 2,4 milhões) em escala mundial.

"Sobrenatural: Capítulo 2", por exemplo, custou US$ 5 milhões (R$ 11,2 milhões) para ser feito e, em setembro, vendeu US$ 116,5 milhões (R$ 261,4 milhões) em ingressos.

Para realizar baixos orçamentos e atrair atores e diretores de alto calibre, Blum recorre a um modelo de negócios incomum. Astros e diretores famosos trabalham pela tabela do sindicato. Tendo sucesso, o lucro é dividido. "Assim, basicamente as pessoas trabalham de graça", ele disse. "E não tem frescuras. O trailer de todos no set de filmagem é o mesmo: inexistente."

Não que todos seus filmes tenham sido sucesso. As decepções incluem "Plush", de Catherine Hardwicke, que arrecadou um total de pouco mais de US$ 3 mil (R$ 6,7 mil) e custou perto de US$ 2 milhões (R$ 4,48 milhões). Porém, por conta do crescimento global dos serviços de streaming e de vídeo sob demanda, mesmo as fitas que não tiveram sucesso na bilheteria contam com uma boa chance de recuperar os custos baixos. Alguns dos abacaxis terminam sendo lucrativos para os distribuidores.

Entrevista: "Por criatividade, abro mão de ser pago", diz Jason Blum

Os filmes da Blumhouse, muitos dos quais se valem de câmera tremida e estilo de câmera de segurança, parecem feitos sob medida para um público que cresceu com câmeras de celular, reality show e YouTube. E os filmes de terror, que costumam se sair especialmente bem entre hispânicos e negros, tem sido o destaque da conturbada bilheteria norte-americana.

"É sempre incrível quando um produtor consegue capturar um nicho de forma tão completa", disse Peter Schlesse, diretor que está saindo da FilmDistrict, que distribuiu a série de filmes "Sobrenatural" de Blum.

O sucesso de Blum foi um pouco invejado pelos produtores rivais, levando alguns executivos de cinema a se assustar com o grau com que ele expõem suas deficiências. Nos últimos tempos, os grandes estúdios buscam com todas as forças o caminho oposto – gastando mais para ganhar mais – levando a um ciclo de inchaços e perdas enormes em filmes como "R.I.P.D. - Agentes do Além".

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Blum, filho do marchand Irving Blum, é hiperativo, espirituoso, seriamente pontual e encantador. Ele pode ser um pouco mexeriqueiro. Um de seus melhores amigos é Ethan Hawke, que estrelou dois de seus filmes.

As pessoas costumam descrevê-lo como "peculiar", o que não está inteiramente correto, embora ele tenha gastado US$ 25 mil (R$ 56,1 mil) para transformar um furgão antigo Chevy Astro em escritório móvel. Um assistente o transporta entre reuniões de estúdio enquanto ele responde e-mails, fala ao celular e vê filmes em uma televisão de tela plana.

"Estou visitando estúdios, agências e televisão. Estou negociando bastante TV no momento, na verdade, um bocado", ele falou durante uma viagem recente até Venice Boulevard, com o pé apoiado em uma almofada.

Blum está tentando expandir seu modelo de negócios de baixo custo que divide as recompensas para a telinha. Ele tem duas séries no ar e sete programas com e sem roteiro sendo trabalhados em várias redes.

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Pessoas próximas dele dizem que sua motivação parece ir além do dinheiro. O pai de Blum ajudou a mudar o mundo da arte ao montar uma das primeiras exposições de Andy Warhol; ele quer provar que pode mudar Hollywood ou pelo menos uma parte dela.

Mesmo assim, a sustentabilidade do império Blumhouse continua em dúvida. Blum surgiu quando os fãs de terror estavam se cansando de ver filmes de tortura ao estilo de "O Massacre da Serra Elétrica". Por fim, o público também pode se cansar de sua marca. Além disso, todo produtor bem-sucedido vive um momento ou outro em que uma mão boa fica ruim – basta pensar em Jerry Bruckheimer, saindo agora do desastroso "Cavaleiro Solitário".

"Historicamente falando, o público termina por se afastar", disse Harold L. Vogel, analista e autor do livro do livro didático "Entertainment Industry Economics". "Não acredito que exista alguma exceção."

E ninguém faz sucesso em Hollywood sem desagradar alguém. O relacionamento de Blum com a Paramount Pictures, que controla a franquia de terror que lhe rendeu fama, "Atividade Paranormal", por vezes o ignora, com os executivos se irritando com o que acham uma tentativa de chamar atenção. Já para Blum, "a Paramount tem sido um ótimo parceiro".

"É o preço do sucesso", disse Schlessel, assumindo o principal posto da Focus Features, a divisão especializada da Universal Pictures. "É uma área competitiva e, de certa forma, um jogo de soma zero." O conselho de Schlessel para sobreviver: "Ele tem de se manter humilde e com fome de sucesso."

Blum, às vezes comparado a Roger Corman, o mandachuva dos filmes B de baixo orçamento, compreende os desafios, mas não tem tempo para ruminar sobre eles. A Blumhouse está pegando fogo.

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O estúdio tem seis filmes esperando lançamento, incluindo "Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal", a ser lançado nos Estados Unidos em 3 de janeiro e no Brasil em 10 de janeiro, e "Stretch" (ainda sem título no Brasil), que leva a Blumhouse para o gênero da comédia, estrelado por Chris Pine e Jessica Alba, e programado para estrear em 21 de março.

Um filme está em produção, cinco outros em fase avançada de pré-produção e uns 20 projetos se encontram em estágios variados de desenvolvimento. Com 15 funcionários, a empresa consegue lidar com esse tipo de volume "porque oferecemos apoio e sugestões em vez de microgestão", declarou Couper Samuelson, vice-presidente executivo de produção.

Embora a Blumhouse venda filmes por vários distribuidores, ela tem um acordo de preferência com a Universal. A presidente do estúdio, Donna Langley, procurou Blum em 2011 depois de seu sucesso com "Atividade Paranormal".

"Eu queria que atuássemos na área de terror de orçamento muito baixo, mas o estúdio principal tem outras coisas em que se concentrar", ela disse. Em junho, a Universal lançou "Uma Noite de Crime", filme que a Blumhouse pagou US$ 3 milhões (R$ 6,7 milhões) para fazer e arrecadou US$ 87 milhões (R$ 195,2 milhões).

Além da televisão, Blum tem uma divisão florescente de entretenimento ao vivo. Uma casa mal-assombrada chamada "The Purge: Fear the Night" foi aberta no centro de Los Angeles em 27 de setembro. A inauguração foi um desastre, mas rapidamente Blum fez mudanças e a atração de Halloween se encontrou depois disso.

Todo esse alvoroço acontece em um complexo que tem dez meses de idade em um bairro operário nos arredores do centro. Os escritórios têm um quê de ponto.com. As salas de pós-produção ficam cheias de diretores e jovens produtores com cara de quem passou a noite acordado; existe um espaço para festas no telhado onde Blum está montando um Mazda Miata empregado em um de seus filmes.

"Ele vai chamar atenção", afirmou todo animado a respeito do carro.

Parte da estratégia de Blum envolve chamar atores de nome que talvez estejam pouco valorizados em Hollywood: Hawke, Jennifer Lopez e Rose Byrne. Os empresários dizem que os atores ficam tentados com as filmagens curtas de quatro semanas – eles podem incluir os filmes nos intervalos de projetos maiores – e a chance de ganhar mais dinheiro do que normalmente ganhariam.

Por exemplo, Hawke receberá perto de US$ 2 milhões (R$ 4,4 milhões) por "Uma Noite de Crime", o dobro do que poderia ter exigido antecipadamente. Byrne ganhou ainda mais pela atuação em "Sobrenatural: Capítulo 2".

Já os diretores se dizem atraídos pela oportunidade de fazer a montagem final, algo que os estúdios detestam fazer.

Casado com uma ex-jornalista do "Wall Street Journal", Blum não começou pelo gênero do terror. Ele se formou em economia e cinema no Vassar College e foi trabalhar na Miramax, onde se tornou copresidente de aquisições em 1998. Todavia, ele se cansou dos pequenos filmes de arte.

"Eu me lembro de pensar que não aguentava mais aquilo. Tenho de fazer filmes que as pessoas vejam."

Fonte: Notícias do Último Segundo: o que acontece no Brasil e no Mundo