Porquê os répteis aprenderam a ouvir fora d’chuva – 12/10/2024 – Reinaldo José Lopes

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Não conheço moçoilo no mundo que não tenha tentado folgar de conversar debaixo d’chuva logo que aprendeu a reprofundar sem se afogar. A experiência é, evidente, tremendamente frustrante. O som se propaga de maneira fundamentalmente dissemelhante debaixo d’chuva, transformando a fala num zumbido ininteligível rodeado de bolhas por todos os lados.

Agora, imagine o cenário inverso. E se você fosse uma indivíduo adaptada a ouvir e produzir som em meio aquoso e se visse diante do duelo de fazer tudo isso em meio airado? Muito, eis aí um dos pepinos enfrentados pelos ancestrais de todos nós quando os vertebrados se puseram a colonizar a terreno firme.

Tudo indica que um elemento principal dessa transição auditiva foi o surgimento de uma membrana timpânica. É porquê se fosse o epiderme de um tambor (não por contingência, esse é o significado original de "tímpano" em helênico), que transmite as vibrações das ondas sonoras que atravessam o ar para dentro do ouvido.

Pois muito: um grupo de pesquisadores brasileiros combinou o estudo dos fósseis, dos embriões e dos genes para entender porquê os ancestrais dos répteis atuais enfrentaram esse dilema. Num estudo que acaba de transpor na revista especializada Current Biology, a equipe liderada por pesquisadores da USP de Ribeirão Preto mostrou que a membrana timpânica reptiliana provavelmente foi "inventada" uma única vez, nos primórdios do grupo.

Repare que, pela definição adotada pelo pesquisador de pós-doutorado Mario Bronzati e pela professora Tiana Kohlsdorf, que coordenaram o estudo, "répteis" é um grupo muito mais largo do que se costuma imaginar. Estamos falando não só de cobras, lagartos, tartarugas e jacarés porquê também das aves atuais, que não passam, no fundo, de dinossauros carnívoros emplumados de porte modesto.

Examinando fósseis com mais de 200 milhões de anos, eles identificaram sinais da presença da membrana timpânica em répteis nos ossos do crânio (e não o tímpano propriamente dito, já que se trata de um tecido "tenro" que quase nunca se fossiliza). Os dados são compatíveis com uma origem única da estrutura nos répteis, entre 300 milhões e 250 milhões de anos detrás.

Ainda mais intrigante foi a estudo do desenvolvimento embrionário, feita em duas espécies brasileiras, o jacaré Caiman yacare e o lagarto Tropidurus catalanensis. São bichos muito separados no álbum de família reptiliano (os jacarés, por exemplo, estão muito mais próximos das aves), o que aumenta a confiabilidade da estudo em termos evolutivos.

Resultado: o desenvolvimento do tímpano é bastante parecido nos dois bichos e nas aves. As mesmas regiões dão origem à cavidade e à membrana timpânica em todos eles, assim porquê os trechos de DNA ativados nesse processo, enquanto a trajetória de desenvolvimento que produz o tímpano dos mamíferos é consideravelmente dissemelhante. Tudo isso aponta para uma origem única da particularidade no avito generalidade dos répteis atuais.

E, veja você, os dados também indicam que os parentes extintos mais próximos dos répteis atuais não tinham ouvido timpânico. Ou seja, é muito provável que essa inovação tenha sido crucial para a sobrevivência dos ancestrais muito-sucedidos das espécies modernas. Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça.

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