Comida de cachorro
O.R. Guzzo, publicado no Blog Fatos
Ninguém conta tão muito a história íntima do PT porquê o próprio PT — e ninguém, porquê ele mesmo, mostra com tanta perspicuidade porquê são as coisas na sua vida real. Nesta reta final do julgamento do Tribunal Regional Federal-4, de Porto Alegre, que vai confirmar ou não a sentença de nove anos e meio de cárcere que o ex-presidente Lula recebeu por devassidão, o partido todo entra numa espécie de deificação na exibição do que tem de pior. Seu tema, agora, é a Venezuela. Depois de romper com o sistema democrático em vigor no Brasil, ao propor claramente o combate a qualquer sentença contrária à Lula, o PT decidiu duplicar a meta, porquê faria a ex-presidente Dilma Rousseff. Resolveu ir à Venezuela para denunciar o processo “político” contra Lula, e a “utilização” da Justiça para dar um “golpe” e impedi-lo de “concorrer às eleições”. Isso mesmo: foram reclamar justiça na Venezuela, a estrela-guia infalível da esquerda brasileira de hoje. Como poderiam ter escolhido melhor?
A Venezuela, porquê demonstram os fatos a cada dia, é justamente o país latino-americano que eliminou o seu próprio sistema judiciário — só Cuba pode confrontar-se a ela neste quesito atualmente. Não há juízes. Há somente funcionários do governo encarregados de executar as ordens que vêm de cima. Há prisões diárias de manifestantes da oposição. Há tortura contra presos políticos. Como ir falar de “justiça” numa tirania bananeira porquê essa? Na prefeitura de Caracas, a capital, o governo sempre perdia as eleições. Solução: eliminaram a Prefeitura de Caracas, com a explicação de que ela não era necessária. A oposição tem maioria no Congresso? Nenhum problema: o governo nomeou um outro Congresso e decretou que é esse o que vale. Não há outro país no continente em que a repressão policial nas ruas seja tão selvagem — ainda no Natal, uma mulher pejada foi assassinada a tiros por um guarda na fileira onde deveria receber a esmola de término de ano do governo — um pernil. A grande teoria do governo de extrema-esquerda da Venezuela é expulsar as forças armadas e colocar em seu lugar uma milícia de 500.000 homens armados, que funcionarão porquê uma guarda pessoal dos donos do governo.
P esse o país que Lula e o PT elegeram porquê o padrão para o Brasil. Já foi o tempo em que tentavam fugir da questão, dizendo que “cada país escolhe o seu caminho” e outras bobagens do mesmo tipo. Hoje deixam absolutamente evidente, sem dissimulação qualquer, que o regime da Venezuela é o que querem para o Brasil — e que o seu único “projeto político” é chegar lá, com Lula no papel de “comandante supremo”. S ex-presidente já disse que o único problema da Venezuela é ter “democracia demais”. Ainda há pouco a presidente do PT manifestou seu pedestal integral às últimas medidas totalitárias do governo para gerar um tipo de eleição em que eles ganharão sempre. Mais recentemente, um deputado do partido (o mesmo que deu “voz de prisão” à uma mulher que o criticava num galeria do Congresso) esteve em Caracas para se queixar, em portunhol extremo, que a Justiça brasileira persegue Lula — e para louvar a sorte dos venezuelanos, que, segundo o PT, vivem num país de judiciário independente, sob o poderio da lei e com a proteção de todos os direitos. Aproveitou para explicar as presentes calamidades que o governo criou na Venezuela (já tem gente comendo comida de cachorro, na penúria universal de vitualhas), porquê resultado da “guerra econômica” que “a mediocracia” move contra o povo.
Lula, se réprobo, será um vítima VEJA.com
