Povoado quer se manter unificado

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Em seguida passar 20 anos livre da depressão, Maria do Socorro da Costa, 50, voltou a ter as crises que há décadas não a atormentavam. A doença que estava controlada voltou depois o dia 5 de novembro de 2015. Ver sumir debaixo da limo os locais de valor afetivo e onde viveu praticamente por toda sua vida foi o gatilho para a moradora de Gesteira, em Barra Longa, voltar a suportar com um mal que seus filhos mais novos não conheciam. A morada de seus parentes era na secção baixa do povoado – que foi destruída.

Maria levava uma vida agitada, cuidava da lar e da roça. Fazia de tudo. Há três anos, ela não sai da leito. “Aquilo (o rompimento) foi o término do mundo, acabou tudo”, disse, chorando. A filha Fabrícia da Conceição Gomes, 23, parou a vida e agora se dedica a cuidar da mãe, 24 horas por dia. “Ela era independente, quando teve depressão eu não era nascida. Ela participava da igreja, cuidava dos três filhos, e agora só fala em morrer”, lamentou.

Apesar do agravamento da doença, Maria do Socorro não recebe nenhum tipo de ajuda da Instalação Renova. “Já levamos muitos laudos, mas não adianta. A gente precisa fazer vaquinha para comprar os remédios”, acrescentou Fabrícia. A mulher chegou a desabar uma vez no rio, logo em seguida a tragédia, quando tentava chegar até a morada destruída de seus parentes. Há menos de um mês, ela saiu novamente de sua residência e foi encontrada com uma fratura exposta da perna e ninguém sabe exatamente porquê ela se machucou.

A família de Maria conta mesmo é com a ajuda da comunidade, que permaneceu unida em seguida a tragédia. Os moradores se juntaram e querem que todas as famílias recebam terrenos onde será o reassentamento.

Conforme a Instalação Renova, 20 famílias serão reassentadas no terreno divulgado porquê Macacos – o espaço foi escolhido pelos atingidos. A comunidade, no entanto, pede que 37 famílias sejam levadas para lá. Em nota, a instituição afirmou que analisa caso a caso. Sobre a situação de Maria do Socorro, a Renova informou que não comenta demandas individuais para preservar a privacidade.

Costumes

Os rituais do povoado se perderam depois a tragédia. O calendário era repleto de datas festivas, porquê o da padroeira Nossa Senhora da Conceição, e quadrilhas. “Ninguém nunca mais entrou na nossa igreja. A gente se reunia lá quase todos os dias, fazíamos nossas festas. É muito triste”, contou Maria das Graças Lima Bento, 64.

Hoje ela só se encontra com os amigos em reuniões para discutir questões ligadas à tragédia. “Parece que está faltando alguma coisa, é uma impaciência”, lamentou.

 

Aos 88 anos, idoso teme não voltar para lar

Pai de 24 filhos, o maior pânico de José Patrocínio de Oliveira, 88, é não ter estar vivo para ter novamente sua mansão na roça. Ele é um dos moradores que precisaram deixar a comunidade de Paracatu de Plebeu, em Mariana, depois o rompimento da barragem de Fundão. Hoje, o idoso passa seu tempo sentado na porta da lar alugada pela Instalação Renova em Mariana “vendo a vida passar”.

“Eu nasci e fui criado em Paracatu. Acordava às 5h, coava o moca, tirava o leite e, agora, estou cá nessa masmorra. Perdi a esperança, se tivesse pelo menos uma barraca, eu voltaria pra lá”, lamenta. Conforme a Instalação Renova, o reassentamento está previsto para ocupar uma espaço de aproximadamente 65 hectares. O terreno denominado Lucila tem 390 hectares e foi escolhido pela própria comunidade.

 

Minientrevista

Simone Silva

49 anos, professora, luta para ser reconhecida porquê atingida

Porquê era Gesteira antes do rompimento da barragem de Fundão em 2015?

Era um pedacinho do firmamento. Todo mundo era colega e vizinho. O que era produzido nos quintais era compartilhado. Se um plantava feijoeiro e outro milho, depois havia uma troca. A gente ia para a lar da minha avó todos os fins de semana. As panelas sempre estavam no fogão. Eu morei lá até os 21 anos e só me mudei porque meu pai queria que a gente estudasse e lá não tinha transporte.

Por que você se considera uma atingida?

A partir do momento em que minha avó, meus tios e o povo da minha comunidade saiu de moradia só com a roupa do corpo, eu sou atingida. Quando as fotos que eu tinha da minha mãe e do meu avô foram levadas pela lodo, eu sou atingida. Quando meus filhos estão doentes, eu sou atingida. É muito difícil conviver com a incerteza sobre se (os filhos) vão chegar à tempo adulta. 

O que deve ser feito de subitâneo?

As pessoas estão passando dificuldades, elas têm que ser reconhecidas porquê atingidas para terem uma vida mais ou menos digna.


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