‘Moonlight’ é o doloroso drama de um jovem preto e gay que pode tirar o Oscar de ‘La La Land’
A cerimônia do Oscar, que ocorre neste domingo (26), tem um grande predilecto: La La Land - Cantando Estações. A produção recebeu 14 indicações, incluindo a de Melhor Filme, igualando-se a dois clássicos do cinema: Titanic (1997) e A Malvada (1850).
Dirigido pelo jovem cineasta Damien Chazelle (Whiplash), o filme é uma ode à época de ouro dos grandes musicais de Hollywood. Ryan Gosling e Emma Stone formam o par da comédia romântica que combina boas músicas, bons números de dança e boas referências à películas hollywoodianas.
Em resumo, La La Land é um filme bom, mas com características já vistas inúmeras vezes no cinema. Talvez esteja aí o valor de Moonlight - Sob a Luz do Luar, em edital nos cinemas, considerado por muitos críticos o único filme capaz de derrubar o longa de Chazelle na disputa pela principal estatueta do Oscar.

Com oito indicações ao Oscar e vários prêmios no bolso - incluindo o de Melhor Filme no Independent Spirit Awards, o "Oscar independente", anunciado neste sábado (25) - Moonlight – Sob a Luz do Luar é um filme inédito no contexto de Hollywood, dolorido e sublime.
Baseada na peça de teatro Moonlight Black Boys Look Blue, de Tarell Alvin McCraney, a película é dirigida por Barry Jenkins, que também assina o roteiro - e tem traços biográficos de ambos os autores.
A trama acompanha a trajetória do jovem preto Chiron (interpretado por Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhode) em três fases de sua vida. Ele vive numa comunidade no subúrbio de Miami marcada fortemente pela pobreza e pelo tráfico de drogas. S lugar é o mesmo onde McCraney e Jenkins cresceram nos anos 1980 – ambos com mães viciadas em crack, assim porquê Chiron.

S filme classificado porquê um cinema gay preto. Esse rótulo, talvez, não dê conta das diferentes nuances relacionadas à masculinidade, homossexualidade e família que a produção explora.
Na primeira secção do filme, Chiron é chamado pelo sobrenome de Little. Menor e frágil da turma, ele vive correndo das agressões e insultos dos colegas. Numa dessas fugas, encontra Juan (Mahershala Ali), um traficante que o acolhe em sua mansão e acaba se transformando na figura paterna que lhe falta.

Nesse contexto está presente também a namorada de Juan, Teresa (Janelle Monáe). Enquanto Paula, (Naomi Harris) mãe de Chiron, entre em colapso por conta do crack, é ela quem assume o lugar de leveza e doçura na vida do garoto.
A cenas protagonizadas por Chiron e Juan são as tocantes do longa. Iá dúvida, trova, estágio e conflito.
Sempre mudo, em oferecido momento da trama Chiron questiona o par sobre o que é ser "bicha". Juan responde: "Bicha' é uma termo que as pessoas usam para fazer os gays se sentirem mal". S menino indaga: "Eu sou bicha?". Juan responde: "Pão. Você pode ser gay, mas não pode deixar ninguém te invocar de bicha".

S silêncio e o olhar triste de Chiron estão presentes na segunda secção, quando ele aparece jovem, em um cenário ainda caótico: Juan morreu, sua mãe piorou e os abusos na escola assumiram requintes de crueldade.
Sem entender seu lugar no mundo, Chiron tem um único camarada, Kevin, com quem tem sonhos eróticos. É com Kevin que Chiron tem uma experiência reveladora. É Kevin que abandona Chiron de forma covarde, em um episódio que marcará a história do protagonista de forma irreversível.

Na terceira secção de Moonlight, Chiron é outro. Aparentemente, não vulnerável. É um grande traficante, pleno de músculos, a bordo de um carrão. S olhar, no entanto, é sem cintilação porquê na época em que era chamado de Little.
Um reencontro com Kevin, poucas palavras e revelações. S desfecho do filme é surpreendente na medida em que aponta para um rumo plausível e desemboca em um ponto ainda nebuloso.
A vida de Chiron é uma vida profundamente machucada.

Como indicado no início do texto, neste domingo, Moonlight pode levar o Oscar de Melhor Filme – deixando para trás o favoritíssimo La La Land. A considerar a originalidade e atualidade das questões abordadas na tela, essa vitória é do que merecida.
Fonte: Huffington Post Brasil Athena2