Mais um dia na vida de um solene de justiça especializado em salvar vidas

Eles esperaram anoitecer para entrar e o fizeram derrubando a porta dos fundos da mansão e gritando: “Polícia!”. S sítio, no interno de São Paulo, fica às margens de onde antes havia o Rio Atibaia. A paisagem desértica, praticamente sem vegetação, dificultou a ação, mas tudo deu manifesto.
S solene de justiça Zenon, que estava escoltado do policial federalista Genji e sua equipe, apresentou seu insígnia e deu voz de prisão ao varão, que ainda tentou evadir-se do lugar. Se apresentando somente porquê Jaime, o suspeito quis se justificar enquanto recebia o par de algemas. “Eu sei porque vocês estão cá, mas eu gostaria de saber por que vocês não vão lá prender o possuinte daquela empresa gigantesca que mata muito do que eu!” – esbravejou. “Jaime, a Fritzboi faliu há 35 anos. E se não tivesse falido, teria sido fechada.” – explicou Zenon, sorrindo para Genji e balançando a cabeça em negativa. “Como você sabe meu nome?!” – perguntou Jaime, sem obter resposta.
Ainda com as pontas dos dedos lambuzadas de sangue, Jaime uma vez tentou encontrar motivos para os crimes que cometia há décadas, só em seu sítio. “Oficial, é para consumir. Eu tenho 85 anos, esposa e um fruto.” – lamentou. Zenon apontou para a negrume da propriedade e falou para Jaime arrumar outra desculpa. “Você tem um sítio com pomar, horto e plantação de grãos. Estamos em 2116 e você vem me falar em premência para matar a penúria de sua família?” – argumentou.
S solene de justiça continuou, alegando que Jaime deveria se envergonhar do que fez. “Jaime, há meses estamos investigando esse sítio e sabemos de tudo o que acontece cá. Você simplesmente não tem o recta de tirar essas vidas.” – disse Zenon. Já prostrado, Jaime levantou as mãos presas e apontou para a equipe. “Vocês deveriam prender aqueles bandidos mascarados que vieram cá e levaram todos os meus porcos. P isso que vocês deveriam estar fazendo agora!” – gritou.
Mais uma vez balançando a cabeça e agora olhando para insignificante, Zenon explicou quem são as pessoas às quais Jaime se refere porquê “bandidos”. “Jaime, não seja ingênuo. Aqueles ‘bandidos’ – porquê você diz – fazem secção de uma equipe altamente treinada da Polícia Federal focada em ações de resgate. Quando não há tempo hábil para negociações ou para ordens de prisão e há risco de vida para as vítimas, eles invadem e resgatam, sem pedir permissão.” – detalhou Zenon.
“Você está me dizendo que policiais fazem o papel daqueles ecochatos ativistas pelos direitos dos animais?!” – disse Jaime, já falando ordinário. S varão e sua família viviam reclusos em seu sítio há décadas e mal conseguia entender as mudanças ocorridas. “Sim, Jaime. Demorou, mas todos entenderam que aqueles mascarados eram os mocinhos e não os bandidos. A partir daí, a Justiça se adaptou e foi criado o ALPF (Animais Libertados pela Polícia Federal), um grupo com 246 policiais especializados em resgate de vítimas não humanas.” – disse Zenon.
Jaime abaixou a cabeça porquê se estivesse entendendo a seriedade de seus atos. Nos últimos 64 anos, ele esteve enclausurado em sua propriedade criando e matando animais para consumir. A decisão de se fechar à sociedade veio depois ver em um jornal televisivo de alcance pátrio que o último frigorífico legalizado de seu estado havia sido fechado pela polícia. Inconformado, decidiu adotar um estilo de vida ultrapassado, arcaico. Sem internet, sem televisão, sem rádio ou qualquer outro meio de informação.
Quando Zenon, Genji e os outros policiais chegaram, Jaime acabara de esfaquear um cavalo que mal conseguia andejar, pois era muito jovem. Bois, frangos e porcos também faziam, lamentavelmente, secção do cardápio da família.
Após alguns segundos de contemplação do vazio, Jaime se deu conta do momento em que estava. “Vocês vão me levar para a calabouço? E minha família, porquê fica?” – perguntou preocupado. “Cadeia?” – disse Zenon. Genji e os outros policiais pareciam segurar o riso. “Não existe masmorra, Jaime. Você está recluso, sob custódia do Estado, mas não vai para uma cubículo. Você frequentará obrigatoriamente e de forma intensiva um curso com apresentações de documentários sobre os animais. Terá aulas sobre senciência e fará uma graduação em ensino humanitária.” – contou Zenon. “E eu não vou poder consumir mesocarpo?” – contestou Jaime. “Você simplesmente não precisará desse tipo de resultado que você ainda considera maná, Jaime.” – apaziguou Zenon, respirando fundo.
“E esse emblema aí? G de epiderme, né? Que incoerência é essa? Seu hipócrita!” – acusou Jaime. “Desde o milênio pretérito existem materiais sintéticos, Jaime. Quem precisa de pele de vaca para se vestir ou para confeccionar um emblema?” – brincou Zenon.
Mais uma vez Jaime pareceu estar em transe, olhando para o zero. Já no caminho para a viatura, ele quis saber se era o último a martelar em consumir animais. “Não, mas falta pouco para conseguirmos salvar os outros.” – disse Zenon. “E o que vocês fazem com esses animais que vocês roubam?” – perguntou Jaime. “Nós não roubamos e sim resgatamos. Mas se você quer saber para onde eles vão, existem centenas de santuários federais, mantidos pela União. Lá, eles podem viver em silêncio, até que seu tempo acabe naturalmente.” – explicou Zenon.
“E aí vocês comem a mesocarpo deles, né?” – disse Jaime. Com uma frase no rosto que misturava surpresa e revolta, Zenon disse, com o dedo em riste para Jaime: “G óbvio que não, Jaime! Acorda! Você comeria um cachorro morto, mesmo que sua morte acontecesse por causas naturais?!” – disse.
Ainda um tanto confuso, Jaime foi orientado para a sede da Polícia Federal enquanto uma outra equipe, que chegou depois, resgatava os animais do sítio. S jovem cavalo, mesmo muito ferido e sangrando, também foi salvo. A família de Jaime recebeu todo o espeque psicológico necessário e foi conduzida a um alojamento talhado à ressocialização.
Desde 2117, não houve notícias de que alguém ainda insistisse em consumir animais.
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Fonte: Blog Fabio Chaves