Chile relembra 40 anos do golpe militar em meio à resgate do legado de Allende

iG São Paulo

Em 11 de setembro de 1973, tropas de Augusto Pinochet avançavam sobre palácio para derrubar governo eleito

Em 11 de setembro de 1973, o governo do chileno Salvador Allende foi derrubado por um golpe de Estado encabeçado pelo general Augusto Pinochet. Enquanto as bombas caíam e as tropas se aproximavam do palácio nacional, o socialista Allende recusou-se a se render e se matou com um tiro, dando início a um período de 17 anos de violenta ditadura.

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Enquanto a nação relembra o 40º aniversário do golpe de Estado de Pinochet nesta quarta-feira, o legado de Allende prospera. A socialista Michelle Bachelet é a favorita na corrida presidencial e uma nova geração, nascida após o retorno à democracia, em 1990, tomou as ruas nesta semana em grande número para exigir as mesmas demandas sociais promovidas por Allende.

Allende se tornou o primeiro líder marxista eleito nas Américas em 1970, conquistando 36% dos votos. Ele traçou o que chamou de "caminho chileno rumo ao socialismo", nacionalizando a indústria do cobre, que era então dominada por empresas americanas, financiando a reforma agrária e melhorando o sistema de saúde, educação e alfabetização.

Em plena Guerra Fria (1945-1990), ao abraçar o socialismo, o que incluiu uma visita de três semanas à Cuba liderada por Fidel Castro, Allende se tornou um pesadelo para o presidente dos EUA Richard Nixon, que aprovou uma campanha secreta para agravar o caos econômico no país e ajudar a provocar a tomada do poder pelos militares.

O golpe de 11 de Setembro inicialmente recebeu apoio de muitos chilenos, cansados da inflação no país que chegava a 500% e da escassez de produtos, Mas o golpe destruiu o que eles descreviam como a mais forte democracia da América do Sul.

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Pinochet fechou o Congresso, baniu partidos políticos e forças de segurança perseguiam e matavam supostos dissidentes. A lista de mortos, torturados ou prisioneiros por razões políticas durante o regime Pinochet totalizou 40.018. O governo estima que 3.095 destes foram mortos, incluindo cerca de 1,2 mil cujos corpos nunca foram encontrados.

A ditadura chilena barrou as reformas de Allende. As escolas do Chile em sua maioria eram públicas até que Pinochet incentivou a privatização do ensino e o corte de gastos. Ele privatizou os sistemas de aposentadoria e de distribuição de água, reverteu a reforma agrária, cortou salários, levantou barreiras comerciais e incentivou exportações, construindo um modelo liberal que permitiu o crescimento econômico chileno - motivo de orgulho para Pinochet.

Agora, os chilenos exigem educação gratuita, melhoras no sistema de saúde e de aposentadoria.

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A complexa estrutura construída por Pinochet para proteger violadores de direitos humanos também foi destruída. Cerca de 700 autoridades militares enfrentam julgamentos pelo desaparecimento forçado de dissidentes e cerca de 70 deles foram presos por crimes contra a humanidade.

Até autoridades que ficaram silenciosas em aniversários anteriores do golpe, incluindo militares, magistrados da Suprema Corte e legisladores de direita, agora se desculpam por seus papéis desempenhados na ditadura.

Pesquisas de intenção de voto indicam que quando os chilenos votarem em 17 de novembro, eles devem dar a vitória para a ex-presidente Michelle Bachelet, integrante do partido socialista que deixou a presidência quatro anos atrás, porque a lei chilena proibiu reeleições consecutivas.

Palácio presidencial do Chile é bombardeado durante golpe militar de Augusto Pinochet (11/9/1973)

Palácio presidencial do Chile é bombardeado durante golpe militar de Augusto Pinochet (11/9/1973)

Foto: AP

Soldados e bombeiros carregam copo do presidente Salvador Allende para fora do palácio presidencial chileno La Moneda (11/9/1973)

Soldados e bombeiros carregam copo do presidente Salvador Allende para fora do palácio presidencial chileno La Moneda (11/9/1973)

Foto: AP

Chilenos observam estrago no palácio presidencial La Mondela em Santiago após bombardeios do golpe militar de 11 de setembro (15/9/1973)

Chilenos observam estrago no palácio presidencial La Mondela em Santiago após bombardeios do golpe militar de 11 de setembro (15/9/1973)

Foto: AP

Sala presidencial onde o presidente do Chile Salvador Allende teria cometido suicídio em 11 de setembro de 1973 (29/9/1973)

Sala presidencial onde o presidente do Chile Salvador Allende teria cometido suicídio em 11 de setembro de 1973 (29/9/1973)

Foto: AP

General Augusto Pinochet (centro) preside reunião com sua equipe militar em Santiago, Chile, dias após o golpe (20/9/1973)

General Augusto Pinochet (centro) preside reunião com sua equipe militar em Santiago, Chile, dias após o golpe (20/9/1973)

Foto: AP

A rival de Bachelet, Evelyn Matthei, é uma amiga de infância cujo pai coordenou a escola militar onde o pai de Bachelet, um general, foi torturado até a morte por se opor ao golpe.

Pinochet, que morreu em 2006, insistiu repetidamente que salvou o país do marxismo, mas uma pesquisa realizada este mês mostrou que apenas 18% dos chilenos agora concordam com ele. 63% acreditam que o golpe destruiu a democracia. A pesquisa, realizada pela CERC, ouviu 1,2 mil chilenos e a margem de erro é de 3 pontos percentuais.

Com AP e Agência Brasil

Fonte: Notícias do Último Segundo: o que acontece no Brasil e no Mundo