Virgindade, o mito do hímen rompido que persiste no século 21 sem base científica – 23/04/2022 – Estabilidade

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A virgindade é uma farsa. Quem afirma são as médicas e escritoras norueguesas Ellen Støkken Dahl e Nina Dølvik Brochmann, que, equipadas com um bambolê forrado com um fino filme de plástico transparente, propuseram-se a explicar a questão à sua audiência.

Brochmann segura o bambolê no ar e Dahl o rompe com um potente golpe.

A cena, apresentada durante uma palestra TED em Oslo, na Noruega, ilustra de forma contundente uma teoria com a qual a maioria de nós crescemos: que, na primeira vez que uma mulher tem relação sexual vaginal, o hímen se rompe e, por isso, ela sangra. E, nesse momento, perde-se a virgindade.

Dahl e Brochmann são autoras de um livro publicado no Brasil com o título Viva a Vagina - Tudo que você sempre quis saber. A palestra ocorreu em 2017 e o roupa de que a relação sexual vaginal não justificação alterações ao hímen é reconhecido pela ciência médica há mais de 100 anos.

Mas a teoria de que essa secção do corpo feminino pode revelar sua história sexual continua predominando na nossa sociedade.

"Na cultura popular atual, existem muitos exemplos do mito do hímen - na televisão e em livros. Ainda se acredita que a maioria das mulheres sangra na primeira relação sexual e que é provável observar uma diferença entre as mulheres que são virgens e as que não são", declarou Dahl à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC).

"É muito prático confiar que a natureza nos forneceu uma espécie de teste de virgindade no corpo feminino, se a sua intenção for controlar a sexualidade das mulheres", acrescenta ela.

E, embora a ONU e a OMS considerem que os testes de virgindade (ou seja, um revista vaginal para verificar se o hímen está "inviolado") são uma violação dos direitos humanos, defendendo sua proibição, esses testes continuam sendo praticados em mais de 20 países (incluindo o Reino Unificado e os EUA), muito porquê a himenoplastia - um procedimento cirúrgico que oferece a "reparação do hímen", mesmo que ele não esteja rompido.

Crédulo, elástico e com um orifício

Mas, logo, porquê é realmente o hímen e o que acontece na verdade depois a primeira relação sexual?

Longe de ser uma membrana delicada que cobre a ingressão da vagina, "o hímen parece-se mais com um elástico para prender o cabelo [como os da imagem mais abaixo] ou uma goma elástica", explica Brochmann no vídeo da palestra TED, que soma vários milhões de visualizações nas diversas plataformas.

Em linhas gerais, sua forma é similar a uma rosquinha, com um grande orifício no meio. É também uma estrutura hiperelástica, capaz de acomodar o pênis sem suportar danos.

"O hímen é geralmente constituído de pedacinhos de mesocarpo - chamados de carúnculas himenais - com grandes diferenças entre uma mulher e outra. Podem ser dois ou três pedaços maiores, ou quatro a cinco pedaços menores, porquê pequenas linguetas ou pétalas, da mesma cor da mucosa da vagina", explica Marta Torrón, fisioterapeuta do assoalho pélvico e profissional em fisiossexologia, que dedica grande secção do seu trabalho à divulgação científica.

"Por isso, porquê são da mesma cor (e porque não estamos acostumadas a olhar para a vulva e a vagina), as mulheres não sabem que esses pedaços de mesocarpo são o hímen, que estará ali por toda a sua vida." Ou seja, "o hímen não é uma membrana fechada que é rompida e desaparece (em seguida a penetração). Em 99% dos casos, o hímen está destapado e nascente é o normal", segundo a fisioterapeuta espanhola.

E, se não estivesse desobstruído, seria um caso de "hímen sem perfuração, que é considerado uma má formação e necessita de mediação, caso contrário o fluxo da mênstruo não poderá transpor e, evidente, não poderá possuir relação sexual vaginal", explica Torrón.

A aspecto do hímen pode ser tão variada quanto a do clitóris, da vulva ou de qualquer outra secção do corpo da mulher. Basicamente, não existe zero no seu paisagem que revele que houve ou não relação sexual vaginal, porquê acabamos acreditando, de tanto ouvir repetidamente.

Portanto, não existe nenhum procedimento médico que permita mandar se uma mulher teve sexo vaginal ou não.

"Ao longo de todos esses anos, já vi milhares de mulheres, milhares de vaginas. E, na maioria dos casos, você não consegue saber se elas tiveram sexo vaginal ou não", afirma Torrón.

Um estudo de 1906, por exemplo, revelou que o hímen de uma trabalhadora do sexo não havia sofrido alterações e mantinha paisagem similar ao de uma jovem que nunca havia tido relações sexuais. Já outro mais recente, orientado em 2004, observou que, de 36 jovens grávidas, 34 delas conservavam seu hímen inviolado.

Em resumo, o hímen pode permanecer inalterado não só depois da penetração, mas também durante toda a gravidez.

Hímen porquê selo de virgindade

As especialistas consultadas pela BBC News Mundo concordam que, sem base científica, a virgindade apresenta-se porquê construção social, um concepção profundamente enraizado há séculos em muitas culturas para controlar o prazer e a sexualidade das mulheres.

Mas, somente no século 16, determinou-se pela primeira vez uma relação entre a teoria da virgindade e uma secção específica do corpo feminino.

O vínculo entre o hímen "e a virtude floresce na fantasia dos homens ao longo do tempo desde o século 16, quando o famoso anatomista flamengo Andreas Vesalius descobriu sobras de mesocarpo em volta da fenda vaginal durante a dissecação dos cadáveres de duas mulheres virgens", segundo explica Eugenia Tognotti, professora de história da medicina da Universidade de Sássari, na Itália.

"Vesalius escreveu no seu livro de anatomia humana (que contém uma das primeiras descrições da anatomia do hímen, quase correta) que nem todas as mulheres virgens têm hímen", afirmou Tognotti à BBC News Mundo. Mas, posteriormente, ele acrescentou que "o chamado hímen 'inviolado' pode ser uma 'prova de virgindade'".

Com esta última asserção, "Vesalius, sem saber, deu ao hímen o significado simbólico que se tornaria dominante ao longo dos cinco séculos seguintes, apesar dos avanços do conhecimento da anatomia feminina, que demonstram que o hímen, porquê muitas outras partes do corpo, apresenta enormes variações de forma e tamanho".

Sangue no lençol

Outra das ideias comuns no imaginário popular é a do sangramento.

O lençol com gotas de sangue - ou o paninho sujo de vermelho em outras culturas, porquê entre os ciganos - na noite de núpcias constitui-se na prova da honra preservada pela mulher.

Em primeiro lugar, "a grande maioria das mulheres não sangra nessa situação e muitas se sentem culpadas ou anormais. Elas se perguntam 'por que não sangrei?' Eu responderia: 'ora, porque o seu corpo é normal, você o conhece e compreendeu quando ter relações'", comenta Torrón.

"Sem saber porquê funciona o seu corpo, a relação sexual vaginal pode lesionar a mucosa [a pele interna da vagina] que, por isso, sangra - mas não porque o hímen foi rompido", esclarece a perito.

Torrón acrescenta que, com a excitação, "a vagina fica maior e mais larga", enquanto Dahl explica que, caso o hímen - que, aliás, é um tecido com pouca vascularização - sofra uma pequena laceração, "ele tende a restabelecer-se rapidamente, porquê qualquer outra mucosa do corpo".

Logo, o que há de verdadeiro na teoria de que o hímen pode romper-se quando a mulher anda de bicicleta, pratica qualquer esporte intenso ou insere um esponjoso interno?

"Andando de bicicleta, com certeza, não, porque [o hímen] é uma estrutura que fica dentro da vagina. A menos que você ande de bicicleta com o assento dentro da vagina, seria muito difícil", brinca Dahl.

"Na minha opinião, a teoria de que andejar de bicicleta, dançar ou caminhar a cavalo pode chegar a modificar sua anatomia interna é absurda", acrescenta ela.

Marta Torrón afirma o mesmo. "Não há zero de verdade nisso. Zero. Porquê não temos nenhuma teoria da veras do corpo, tentamos dar explicações para o sangramento. A explicação real é que o hímen e a vagina são elásticos."

Completar com o mito

Para Torrón, é importante propalar essas informações sobre o hímen, que são importantes "não exclusivamente para pessoas religiosas", a término de extinguir os mitos do pensamento coletivo.

Mas, além do provável impacto sobre a saúde e o muito-estar sexual das mulheres, é fundamental expulsar essas noções falsas devido à sua influência no campo da medicina judicial, segundo ela.

"Quando chega uma mulher que diz ter sido abusada e que houve penetração, as pessoas examinam a vagina e verificam se o hímen está inteiro. E, se não encontram lesões, duvidam dela", ressalta a fisioterapeuta.

Já Ellen Dahl acredita que, além da informação, é importante que deixemos de nos preocupar se uma mulher é virgem ou não.

"Porque o problema é a teoria de que a mulher precisa ser virgem e um mal-entendido biológico está sendo usado para edificar seus argumentos. Por isso, o projeto mais importante à nossa frente é deixar de pensar que as mulheres deveriam ser virgens", conclui ela.


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