Dezenas de espécies invasoras de peixes colocam em risco fauna aquática da Amazônia – 26/06/2021 – Reinaldo José Lopes
O dileto leitor provavelmente não suporta mais ouvir notícia ruim, e talvez tenha até comemorado a (tardia) defenestração daquele cosplay mal-ajambrado de ministro do Meio Envolvente chamado Ricardo Salles. Alegria de pobre dura pouco, porém, e Salles é só uma marolinha em meio ao tsunami de chorume ambiental que assola leste esquina do mundo. Neste exato momento, por exemplo, ao menos 41 espécies invasoras de peixes estão usando todos os recursos que a evolução lhes concedeu para tomar conta dos rios da Amazônia.
Detalhes sobre a situação, uma “ameaço silenciosa”, porquê a qualificam os cientistas, acabam de ser publicados no periódico especializado Frontiers in Ecology and Evolution. Uma equipe capitaneada por Carolina Rodrigues da Costa Doria, da Universidade Federalista de Rondônia, que inclui colegas de outros países amazônicos, dos EUA e da Europa, vasculhou as mais diversas bases de dados para mapear o estado atual do problema na região.
Entre as más notícias, além do número de espécies invasoras em si e do roupa de que o Brasil é o segundo país mais afetado (estamos detrás somente da Colômbia), está a velocidade aparentemente crescente do processo. Dos 1.314 registros de peixes “alienígenas”, 75% vêm dos últimos 20 anos.
É normal que as pessoas se perguntem qual seria o problema de introduzir algumas tilápias-do-nilo (Oreochromis niloticus, uma das espécies invasoras mais encontradas na Amazônia) em um ou outro pesque-pague de Manaus. Em suma, o que acontece é que esse tipo de transplante biogeográfico frequentemente desencadeia um efeito-dominó, no qual as espécies nativas acabam levando a pior de diferentes maneiras.
A espécie recém-chegada sai na frente das aborígines, para início de conversa, por não ter inimigos naturais em sua novidade lar —e, caso seja predadora, suas novas presas não saberão porquê se tutelar dela. Também pode carregar, em seu organização, micro-organismos e parasitas com os quais os habitantes originais do lugar invadido nunca tinham precisado mourejar antes.
A combinação desses fatores frequentemente é desastrosa e, no caso dos peixes fluviais, já há indícios de que ela está levando a uma simplificação e homogeneização das ictiofaunas (ou seja, o conjunto de espécies do grupo) em rios mundo afora.
Essas consequências ainda não estão acontecendo na Amazônia, mas isso não é motivo para descobrir que está tudo tranquilo e favorável. A maioria das espécies da lista de invasores é onívora ou carnívora (19 e 6, respectivamente), o que facilita sua adaptação e aumenta a ameaço de ataques aos peixes nativos. Doze delas têm múltiplos ciclos anuais de reprodução ou geram filhotes o ano todo, e nove possuem subida feracidade. Por término, nove são capazes de comportamento migratório (o que facilitaria a dissipação delas pelos habitats amazônicos). Conseguiu-se até a façanha de transformar o pirarucu (Arapaima gigas) em espécie invasora —ele foi levado para o cima rio Madeira, onde não ocorre naturalmente.
Uma possibilidade, dizem os pesquisadores, é que a tremenda pluralidade originário de peixes da Amazônia (que tem murado de 2.500 espécies descritas) funcione porquê uma espécie de “airbag ecológico”, impedindo os piores efeitos das invasões. De traje, ambientes com subida biodiversidade costumam ser relativamente resilientes. Mas isso está longe de ser motivo para complacência. Projetos de aquicultura precisam descobrir maneiras de aproveitar inteligentemente essa riqueza nativa –e reformar as tilápias.
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