Daniel Rezende: “Ninguém Tá Olhando é sobre crenças, e não sobre religião” – Blog do Sadovski

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Ninguém Tá Olhando chegou à Netflix há uma semana, mostrou que a humanidade é protegida por burocratas ruivos, de asas minúsculas e gravatas vermelhas, e que nosso direcção é controlado por uma imensa secretaria pública. Faz uma semana, portanto, que seu fundador, o diretor Daniel Rezende, descobriu a velocidade de resposta do público para uma série distribuída pelo maior gigante de streaming do planeta. Zero mal para um projeto ávido, com camadas super filosóficas, que ao mesmo tempo tocou no pulso pop de uma audiência disposta a consumir produtos com sua própria rosto, mas que andava dormente e ávida para se enxergar na tela. Essa foi, enfim, a proposta de Ninguém Tá Olhando: conversar com uma geração absorta no streaming, usando uma linguagem universal e abordando questões complexas emolduradas pela comédia. Foi nesse espírito (sem trocadilho) que eu bati um longo papo com Rezende sobre as origens da série, o mercado audiovisual brasílico, a indicação ao Oscar por Cidade de Deus, Caverna do Dragão e… farofa de banana. E é isso!

Uli é um angelus gente porquê a gente

Por que angelus e não anjos?
A geração dos angelus se deu porque eu não queria falar sobre anjos da guarda. Porque anjos da guarda trazem milênios de uma história que foi criada por humanos, reinventada por humanos e passada a cada geração. Logo tem muita fardo aí. O que mostramos é outra indivíduo, que habita nascente novo mundo com estas regras. Mesmo fazendo isso, muita gente olha e diz que eles estão no Firmamento – não tem nenhuma referência a Firmamento na série, zero referência a religião. Ninguém Tá Olhando não é sobre religião, mas é sobre crenças. O que inclui economia, moral, cultura, todas as narrativas que a gente inventa – assim porquê religião é uma dessas narrativas. A série faz questão de não criticar, mas questionar essas narrativas e também questionar o próprio questionamento a elas. O ser humano precisa delas! Por isso criamos esses personagens burocráticos que são seres medíocres, comuns, que vão passar a evo protegendo os humanos e tudo muito. Até que Uli (Victor Lamoglia), o protagonista, questiona e percebe que o próprio sistema também é uma narrativa, o que o faz agir fora desse sistema. Queria que fosse uma série enxurrada de questões filosóficas coberta por uma comédia pop, divertida e que conversasse com muita gente.

Me parece uma base densa para uma série tão ligeiro. Porquê foi descobrir esse estabilidade?
Eu senhor (a animação) BoJack Horseman. É genial fazer de um cavalo o protagonista, porque você pode virar a exigência humana ao avesso e continua sendo a história de um cavalo! É um recurso que se usa para poder criticar dentro da comédia. A gente assiste aquilo, ri daquilo e pensa, "peraí, mas eu faço igual". E o que eu mais queria fazer em Ninguém Tá Olhando era justamente poder falar sobre a humanidade. Começou um pouco sobre questionar as decisões que tomamos, porque a humanidade segue crenças e raramente as questiona, segue padrões porquê se fosse um monte de hamsters girando rodinhas. Somos todos hamsters, mas alguns saem da rodinha. Queria manifestar que a vida não é aleatória por contingência, que foi uma frase dita no meio do processo e terminou na boca do Uli.

Porquê foi a apresentação do projeto para a Netflix?
Eu tive essa teoria em um curta sobre anjos lá detrás e comecei a trabalhar nessa teoria com o (roteirista) Teo Poppovick. Apresentei para a Netflix, eles acharam legítimo, gostaram do concepção de uma comédia com anjos, "você não tem uma série ainda, obrigado e tchau". (risos) Daí começamos de novo, já trabalhando com a (roteirista) Carol Markowicz, refizemos toda a bíblia com os conceitos originais, reapresentamos e eles compraram a série. Logo foram seis meses antes de mostrar pela primeira vez e um ano antes de mostrar pela segunda vez. Era uma série mais episódica, cada capítulo tratava de um objecto com um humano novo. A Netflix queria binge watching, pra maratonar. Eu ouvi uma frase que paladar muito, "ortografar é a arte de reescrever". E também "o bom é inimigo do ótimo". Em minha curso porquê montador eu já tinha percebido um pouco que se acentuou ao trabalhar com roteiro e direção: quando existe incerteza, não é o caminho perceptível. Quando é o notório, não tem mais incerteza. Ainda que certeza não exista, não existe verdade absoluta. Zero mais incerto do que a certeza.

Estamos mega filosóficos hoje!
(risos) Mas a folgança é essa! Esses dias comentei com um camarada que o cinema está aí há mais de centena anos, e a quantidade de filmes feita no mundo só aumenta. Talvez não não cinema, mas produtos audiovisuais. Tudo praticamente já foi feito. Logo se você investir em alguma coisa, pode ser a comédia mais escrachada, mais mercantil, ou o filme mais cabeça. Se não vai servir para que a gente tente mudar um ser humano sequer, que ele saia dali com uma experiência melhor, eu não vejo razão pra entrar nessa.

Kéfera Buchmann e Victor Lamoglia discutem o sexo dos… angelus!

É uma filosofia muito dissemelhante do que vimos nessas décadas de cinema e audiovisual no Brasil, não?
Olha só, sim e não. O cinema voltou há pouco mais de vinte anos. Nesse período tivemos de reaprender a fazer cinema. Ficamos muito tempo parados depois de um período devotado à pornochanchada. Logo, os publicitários que continuaram filmando entraram no mercado, o Walter Salles, o Fernando Meirelles, o próprio Cao Hamburger, um pessoal que tinha experiência de set. E uma linguagem novidade foi sendo criada, criando também muitas pérolas do cinema pátrio. E também muita coisa ruim, porquê em qualquer lugar do mundo. Sem falar que ainda existe um preconceito muito grande com o que é feito cá. Nos tempos de hoje existe cada vez mais uma luta contra a arte e contra o pensamento questionador. A nossa missão, a missão do audiovisual hoje em dia, é ser resistência, lutar pela cultura e pela arte, porque é importantíssimo! Mas supra de tudo a gente precisa invadir as pessoas pelas pessoas. É o que eu quis fazer com o Ninguém Tá Olhando. Lançamos há uma semana e vejo reações de pessoas que assistiram e querem recontar pro camarada, que recomendaram pro avô, já tem muita gente querendo ver uma segunda temporada, e isso me deixa surpreso e feliz!

A Netflix já bateu na sua porta pedindo essa segunda temporada?
Ainda tá muito cedo, todo mundo que pediu está esperando esse momento – inclusive eu e toda uma equipe gigante que suou muito na produção. Os produtores, criadores, roteiristas, os atores! Todo mundo enxergou o que a gente entregou: uma série ligeiro, divertida, engraçada e questionadora.

Porquê foi trazer estes conceitos para o elenco?
A reação dos atores foi muito parecida com a reação da equipe. Sentir que ali tinha um pouco novo. Releitura sobre anjos não é novidade. Tem o Dogma do Kevin Smith, comparam muito a gente com (a série) Miracle Workers, que eu não vi de propósito! A série começou duas semanas antes de começarmos a filmar. Não vi Good Omens também, não vi nenhuma série de criancinha de propósito! Só queria ver depois que a minha estreasse. Não queria ser influenciado.

Mas você deve ter visto muito Todo Mundo Quase Morto
É maravilhoso! Adoro de verdade. Edgar Wright é um gênio. Na verdade é assim. A gente reviu seus filmes, foi uma referência com certeza. Outra referência foi alguém que não tem zero a ver com cinema que é o (noticiarista israelense Yuval) Harari, responsável de Sapiens, Homo Deus e 21 Lições Para o Século 21. Eu fiz a sala de roteiro inteira ler Harari, o que ele diz é o que eu gostaria que a série significasse. Ele fala muito sobre narrativas que a humanidade inventa. Porquê a série está em 190 países, a chance de eles assistirem é pequena mas existe!

Todo Mundo Quase Morto, de Edgar Wright, uma das inspirações da série

Existe espaço para pensar no cinema porquê resultado, no sentido de a experiência do filme gerar itens que as pessoas possam vigiar porquê mica do que acabaram de ver?
Eu tento. Bingo foi feito pra isso, mas não rolou. Turma da Mônica teve força pra isso e ainda assim tiveram dificuldade. Mas existe muita camiseta do filme, caneco, caderno. Ninguém Tá Olhando foi pensado também pra isso. Porque eles são todos ruivos de gravata vermelha e camisa branca de manga dobrada? Eu queria todos padronizados, não importa se fosse branco, preto, asiático. É uma fantasia de carnaval pronta! A gente vai na 25 de março, compra a asinha, uma gravata vermelha, uma camisa branca e pronto.

A Lar de Papel conseguiu isso, com os macacões vermelhos e a máscara do Dali.
Porque é icônico! Se hoje eu uso uma gravata vermelha e seguro o Sansão com um nariz de palhaço, eu estou contando quem eu sou. Três símbolos. Mas o mercado ainda hesita em abraçar isso. O mercado vai onde está o numerário. Se o brasílico que tem moeda prefere comprar o resultado gringo, fica difícil investir. É cultural, e mudar essa cultura leva tempo. Ninguém Tá Olhando tenta buscar esse diálogo, porque a gente investiu em qualidade, mas sozinho não dá pra fazer muita coisa. Precisamos de mais séries, e a Netflix está investindo, A Amazon começou a investir, a GloboPlay está fazendo. Cabe a nós, da indústria, fortalecer esse momento. Porque é um resultado, é uma indústria. Não importa o filme, ele custa muito moeda e ele precisa lucrar. Pagamos o ingresso igual. E isso não quer expor que não seja arte. Se não subsistir esse estabilidade, a vontade de fazer com qualidade com a vontade de fazer um pouco para o público, morre.

Curioso que você menciona essa vontade de Ninguém Tá Olhando ajudar a ressignificar o nosso audiovisual. Esse momento do audiovisual, com tanta série em produção, seria essa oportunidade?
Olha, o mundo inteiro está experimentando essa transição nas últimas décadas, tanto cá quanto o cinema americano, o cinema europeu. Existe uma procura para desenredar que tipo de filme que comunica, que tipo de filme consegue alguma sobrevida nos cinemas. A nossa dificuldade é que cá se morosidade muito pra fazer um filme, logo temos de saber o que vai orar com as pessoas em sete anos. Bingo demorou sete anos entre a teoria original e o filme ser lançado. A televisão tem um outro ritmo o qual eu não conheço, mas agora que eu estou conhecendo um pouco o streaming, vejo que é provável fabricar produtos com qualidade e mais velocidade. O poder que a Netflix tem no Brasil e no mundo é muito grande. A gente reaprendeu a fazer cinema, e isso morosidade! Nos Estados Unidos foi quase meio século da invenção do cinema até eles conquistarem o mundo no pós-Guerra. Acho que o streaming tem esse potencial de vincular quem faz com quem assiste com uma resposta muito imediata. Em dois, três dias a gente entendeu que Ninguém Tá Olhando alcançou o coração das pessoas. Se existe uma sátira ao público e ao mercado é que o brasiliano aceita o que vem de fora e não dá valor ao que vem de dentro – pode parecer bobagem, mas é assim desde sempre. É só ir em uma sarau à fantasia e ver quantas pessoas estão fantasiadas porquê personagens brasileiros e quantos estão fantasiados de personagens americanos. A gente faz isso porque fomos condicionados.

Não dá pra virar isso?
Dá, mas é difícil. Eu lancei Turma da Mônica quando estavam em edital Toy Story 4, Varão-Aranha, O Rei Leão e Pets 2. Ainda assim fizemos 2 milhões de público. A teoria sempre foi pegar uma grande geração da cultura pop, fazer um filme de qualidade com dramaturgia e conectar com o público. Ainda assim eu vi muita gente do mercado que foi ver Toy Story, foi ver O Rei Leão e não foi ver Turma da Mônica. As pessoas que trabalham nos filmes, finalmente, são brasileiros, e todos nós somos condicionados. O mercado tem uma dificuldade imensa em conversar, em trocar experiências. Por que os três mexicanos estão lá todo ano ganhando Oscar? Porque eles são amigos, tomam vinho juntos, trocam ideias. Nossa cultura é "se eu mostrar meu filme você vai plagiar", mas isso felizmente está mudando. A comédia escrachada já não é tão muito aceita porquê antes, o filme ultra cabeçudo também está mais esmagado. A disputa é com a indústria americana de um lado, os melhores filmes europeus do outro. Se a gente não conversar não vamos fazer essa conexão. Já existe uma troca maior, e a qualidade tem aumentado. Esse ano tivemos ótimos filmes. Bacurau, A Vida Invisível, são ótimos filmes que mostram que a mentalidade está mudando. Eu brigo muito por isso.

Cidade de Deus deu a Daniel Rezende uma indicação ao Oscar

O quanto é importante transpor uma indicação ao Oscar para A Vida Invisível?
A indicação ao Oscar é uma coisa muito difícil. Mas neste ano, em que no Brasil o governo está lutando tanto contra a cultura, filmes que conseguem sobreviver aos blockbusters e que se destacam nos maiores festivais do mundo são importantes. Ter uma indicação ao Oscar é a glorificação que a cultura é importante, que vivemos de história, de imaginação. O povo que não tem cultura é um povo fadado a rodar a rodinha do hamster. Os angelus são exatamente isso. Foram ensinados a fazer uma única coisa e estão há milênios cumprindo aquilo. É confortável. Desconfortável é mudar o mundo, e isso não acontece quando obedecemos todas as regras. A série não é uma apologia a quebrar regras, pelo contrário: mostra dos benefícios mas também os problemas quando pensamos fora da caixa. Não existe manifesto e falso, é isso que a série fala. Mas uma coisa é roupa: ninguém que mudou o mundo o fez seguindo regras. Encarar o ignoto é difícil. Fácil é fazer aquilo que nos mandam fazer, daí não é preciso pensar.

Você tem qualquer projeto dos sonhos, que você tem vontade de colocar sua assinatura?
Tenho… e é o pior momento pra falar tudo isso agora. Eu sei que ele está sendo desenvolvido agora nos Estados Unidos e é um pouco gigantesco – só que esse que está sendo produzido não é o que eu quero fazer. Mas quando ele transpor eu não terei a menor chance de fazer nos próximos dez anos.

O que é, O Senhor dos Anéis na Amazon?
(risos) Quase. O sonho da minha vida desde que eu sou moço é fazer o live action de Caverna do Dragão. E eu sei que eles não estão fazendo a adaptação do gravura que foi sucesso cá nos anos 80, porque essa versão pouca gente conhece fora do Brasil. Logo eu sei que esse eles não vão fazer, mas é meu projeto do sonho. Existe uma adaptação do jogo pro cinema (Dungeons & Dragons – A Façanha Começa Agora, lançado em 2000) que é um horror!

Logo existe uma vontade de fazer essa curso fora do Brasil.
Eu penso nessa curso em alguns anos, e acho que ela vai sobrevir na hora certa. Mas olha só, apesar de ter esse projecto, meu pensamento sempre foi cá. Tudo que eu fiz foi para o Brasil. Bingo foi para o Brasil, Turma da Mônica foi para o Brasil. Eu tenho muita vontade de fazer o brasiliano permanecer orgulhoso de nossa cultura e saber que a gente sabe racontar boas histórias. Cinema dá um trabalho brutal. Fazer com menos afinco me daria uma vida mais tranquila. Mas eu sempre tive uma filosofia, tanto porquê montador e agora porquê diretor, que diz que, se eu sei porquê fazer, não tenho o menor interesse. Meu próximo projeto tem de ser alguma coisa que não tenho a menor teoria de porquê fazer. Mesmo Turma da Mônica eu não fazia teoria porquê tirar do papel. Eu me perguntava em porquê seria a turminha se ela existisse de verdade, e me guiei por aí. Eu não queria fazer Dick Tracy, Dr. Seuss, eu queria manter o lúdrico, o tingido, um cachorro verdejante, mas em situações que pudessem subsistir.

Quando você foi indicado ao Oscar por Cidade de Deus não seria o melhor momento para dar esse salto?
Eu vim da publicidade e Cidade de Deus foi meu primeiro longa, eu nunca tinha feito nem um curta. E eu fui arremessado nesse mundo, que era o que eu sempre quis fazer, já que quando eu fiz faculdade, no prelúdios dos anos 90, não havia cinema. No momento da indicação ao Oscar eu já estava fazendo meu segundo filme internacional. O primeiro foi Diários de Motocicleta, do Walter Salles, que eu estava montando em Los Angeles. Emendei com Chuva Negra, também do Walter, em 2004. Eu já tinha um agente e pensei em edificar uma curso direto fora do Brasil. Mas duas coisas me fizeram mudar de teoria. Uma que minha mulher engravidou, e outra que nos Estados Unidos não tem farofa de banana, mano. (risos) Aí, fica complicado.


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