Crise segura repasse da subida do dólar para consumidor final
Revérbero da instabilidade política, câmbio faz restaurante trinchar lucro para não perder cliente
Depois de duas sessões de subida, beirando os R$ 4, o dólar mercantil recuou e terminou essa quarta-feira (8) em R$ 3,93. Apesar da trégua, analistas de mercado afirmam que a instabilidade política ainda vai segurar o câmbio em patamares altos por um bom tempo. O impacto não vem só para quem investe ou pretende viajar para o exterior. Do pãozinho ao combustível, tudo que depende de cotação internacional já está mais custoso para indústrias e lojistas. Os aumentos só não chegaram ao consumidor final ainda porque a crise econômica derrubou as vendas e está impedindo ou, pelo menos, adiando o repasse.
O presidente do Sindicato e Associação Mineira das Indústrias de Panificação (Amipão), Vinícius Dantas, lembra que, em janeiro deste ano, a saca de trigo estava custando murado de R$ 62. Agora, custa R$ 72, subida de 16%. “Só nas duas últimas semanas, tivemos dois aumentos de 5%. Com a atual situação de desemprego e delongado de salários dos servidores estaduais em Minas Gerais, não conseguimos repassar. O quilo do pão continua custando, em média R$ 15,90, o mesmo valor do prelúdios do ano”, explica. Segundo Dantas, o setor só consegue segurar os aumentos por, no sumo, mais três meses.
O possuinte do restaurante Empório do Clã, Alexandre Alvarenga, calcula que, desde janeiro, sua margem de lucro já caiu 10%. “Eu trabalho com muitos ingredientes importados, porquê bacalhau, peixes, chocolates. Só o óleo subiu murado de 15%. Eu não posso subir os preços nem mudar o meu cardápio, pois o cliente vem em procura daqueles pratos específicos. Também não posso trocar fornecedores porque não quero aventurar perder a qualidade. O jeito é reduzir o lucro”, destaca.
O professor de economia da Faculdade Arnaldo Alexandre Miserani afirma que a subida do dólar é revérbero do quadro de instabilidade política do Brasil, que ainda não conseguiu colocar em prática as promessas feitas durante a campanha das eleições presidenciais, porquê gerar empregos. Ele cita que o Brasil tem hoje 13 milhões de desempregados e 27 milhões de pessoas que já desistiram de procurar tarefa.
“Muitas pautas estão travadas no Congresso, porquê a reforma da Previdência. O ritmo lento impede que o prolongamento seja veloz, pois repercute no cenário internacional porquê um país que não tem a devida firmeza para ter credibilidade de investimentos estrangeiros”, avalia Miserani.
Turista deve tentar remunerar tudo em reais
Para quem vai viajar, o peso do câmbio é ainda maior, pois o dólar turismo está já ultrapassou os R$ 4. Comprar com antecedência ajuda, mas nem sempre é provável. Logo, a opção é lançar mão de estratégias para amenizar. A CVC, por exemplo, sugere que o turista inclua no pacote o sumo de serviços, porquê locação e veículos, ingressos e até o seguro, para conseguir diluir os custos, já que é provável parcelar a viagem em até 12 vezes, pagando em real.
Enquanto quem vai viajar para o exterior ou precisa importar insumos está preocupado, quem exporta não tem do que reclamar. A Forno de Minas, por exemplo, está com o saldo positivo. “Mesmo precisando importar insumos, temos mais benefícios do que prejuízos, pois exportamos para murado de 20 países”, explica a diretora de marketing, Valéria Favaretto. A empresa mineira, famosa pelo pão de queijo, acaba de entrar no mercado do México, para onde está exportando waffles.
Taxa de juros
Selic. Apesar de reconhe- cer o ritmo lento da econo- mia em 2019, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Meão decidiu nessa quarta-feira (8) manter a Selic (taxa básica de juros) em 6,50% ao ano.
Esperado. Essa foi a nona manutenção consecutiva.
Lentamente. O BC destacou que o risco de uma inflação menor devido ao fraco desempenho econômico se elevou desde março.
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