Como a desproporção entre os sexos está complicando a tarefa do presidente Xi

19º congresso do Partido Comunista Chinês.

Por David Skidmore

Por estranho que pareça, a política econômica da China é refém de uma população com uma grande desproporção entre os sexos.

S excesso de homens jovens e solteiros representa um dilema complicado para o presidente do país, Xi Jinping, e para os outros líderes chineses.

Depois de anos de pesados gastos e investimentos para açodar o prolongamento e gerar empregos, a China corre o risco de estagnação econômica se sua economia não for reestruturada. Mas existe o risco de que as medidas de incentivo gerem tensões entre os milhões de homens não-casados – conhecidos porquê "galhos nus" --, que serão demitidos de siderúrgicas, minas de carvão e montadoras de veículos.

Até agora, Xi tem temperado as reformas e mantido abertas as torneiras de quantia, com o objetivo de evitar instabilidade política. Mas, com o crescente dispêndio do desequilígarbo econômico interno e a pressão internacional para que a capacidade excessiva de produção sofra cortes, Xi terá de determinar o que fazer a reverência dos "galhos nus" que estão em seu caminho. Pão será uma tarefa fácil, porquê sugere minha pesquisa na intersecção entre a economia e a política.

Trabalhadores almoçam em canteiro de obras no Distrito Central de Negócios de Pequim, diante de um mural que retrata o skyline da capital chinesa.

A gastança chinesa

S dilema é resultado de uma década de políticas econômicas, desde a resposta dos líderes chineses à crise financeira mundial de 2008: investimentos maciços em infra-estrutura em indústrias pesadas para sustentar o prolongamento econômico e evitar tensões políticas.

A proporção da economia chinesa dedicada a investimentos subiu de um terço para murado da metade – u, nível sem precedentes em economias modernas (porquê comparação, os Estados Unidos investiram muro de 20% em 2015). Desde 2008, a produção de aço que dobrou no país, atingindo quase metade do totalidade mundial.

S investimento foi notavelmente muito-sucedido, pelo menos no limitado prazo, ajudando a China a evitar a desaceleração econômica observada no Ocidente. A gastança chinesa também criou a maior rede mundial de trens projéctil e fez do país o maior produtor global de painéis solares.

Mas essa política também causou uma enorme ressaca, que ameaça se tornar uma "crise financeira e econômica", a menos que haja reformas, segundo um grupo de economistas da Universidade de Oxford. S relatório sugere que a China se concentre em menos projetos de infra-estrutura, mas de maior qualidade, e ao mesmo tempo acelere a demanda dos consumidores.

S país, entretanto, continua dependendo de investimentos em infra-estrutura para gerar incremento. Além do aço, a economia também sofre com capacidade excessiva em carros, cimento, vidros, células fotovoltaicas, alumínio e carvão. Esforços recentes para o fechamento de fábricas antigas e ineficientes surtiram pouco efeito até cá.

Isso também tem consequências internacionais, porque todo esse aço, vidro e alumínio em excesso tem de ir para qualquer lugar – e acaba indo parar em outros países, prejudicando mercados domésticos. As exportações de aço para os Estados Unidos, por exemplo, aumentaram 22% entre agosto do ano pretérito e julho deste ano, precipitando ameaças de retaliação por secção do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Por que o governo chinês estendeu por tanto tempo esses maciços? Por que têm sido tão relutantes em fechar fábricas produzindo aço, painéis solares ou vidro em excesso ou em parar o desenvolvimento de "cidades fantasmas"?

Embora haja vários fatores a considerar, um deles merece atenção do que tem recebido até agora: os líderes chineses temem as consequências do cima desemprego entre os "galhos nus", termo usado no país para escolher homens jovens, de ordinário status. Eles tipicamente têm dificuldade de encontrar esposas e representam o término da risca na árvore familiar.

O distrito Kangbashi, na cidade de Ordos, uma das 'cidades fantasmas' chinesas.

S incremento dos 'galhos nus'

Os galhos nus são resultado de uma das maiores desproporções do mundo entre homens e mulheres.

A China tem 106,3 homens para cada 100 mulheres. No mundo inteiro, a proporção é de 101,8 homens para cada 100 mulheres. Nos próximos anos, o desequilígarbo na força de trabalho só tende a piorar, porque há 117 meninos com menos de 15 anos para cada 100 meninas. Isso é resultado da discriminação extrema em obséquio dos homens, uma tendência exacerbada pela política de um único fruto, em vigor entre 1979 e 2015. Mães grávidas de meninas muitas vezes abortam.

A política gerou um excedente de homens "galhos nus". Eles tipicamente têm inferior status, pois homens de melhor educação e renda subida têm chances de encontrar esposas. Sem capacitação e sem os fortes laços comunitários criados pelas famílias, esses jovens solteiros respondem por grande secção da população que migra internamente, saindo do campo em direção às cidades em procura de trabalho.

As pesquisadoras Valerie Hudson e Andrea den Boer afirmam que sociedades com grandes contingentes de "galhos nus" correm maior risco de tensões sociais e de incidência de criminalidade. Isso é mormente verdadeiro se não houver oferta de empregos adequados para esses homens sozinhos. Outras tendências preocupantes acompanham a desproporção entre os sexos, incluindo desigualdade de renda e o grande número de idosos que têm de ser sustentados por cada pessoa em idade economicamente ativa.

Trabalhador de siderúrgica em vilarejo de Jingyin, na Província de Jiangsu.

Crescente risco de tensão

É esse temor do desemprego e das consequentes tensões sociais que fazem o país hesitar em fazer reformas econômicas.

Alguns economistas acreditam que a taxa solene de desemprego do país – 4% -- seja subestimada. S número real estaria perto do duplo. S índice é politicamente sensível porque desempregados têm maior verosimilhança de se envolver em protestos e outras atividades contra o regime.

E os homens são a maioria dos trabalhadores das indústrias potencialmente atingidas por reformas em setores porquê o da indústria pesada. Por outro lado, mulheres respondem por uma secção desproporcionalmente maior no setor de serviços, que tem de crescer para sustentar o prolongamento da economia, caso haja desaceleração nos gastos com infra-estrutura e na indústria.

S padrão de prolongamento do país exacerba o problema do incremento, porque infra-estrutura, construção e indústria pesada requerem capital relativamente intenso, ou seja, um determinado nível de investimentos gera menos empregos que o mesmo valor investido em serviços (um setor que exige mão-de-obra). Em outras palavras, ênfase em serviços criaria postos de trabalho e reduziria níveis perigosos de desemprego.

Se a China mudar para um prolongamento fundamentado em setores, o risco de tensões vai crescer, pois as mulheres tendem a obter empregos à custa dos homens, mormente os "galhos nus". Portanto, mesmo que a China consiga "aterrissar suavemente" e crie empregos no universal, as tensões políticas e sociais também podem aumentar, porque o número de "galhos nus" seria proporcionalmente maior.

Isso explica por que as autoridades chinesas têm direcionado enormes investimentos para setores dominados por homens desde a crise financeira de uma década atrás. E por que, em anos recentes, têm demorado tanto para implementar as reformas econômicas que o próprio governo reconhece porquê necessárias para manter a boa saúde da economia chinesa.

Da perspectiva de Pequim, melhor fazer alguns investimentos ineficientes que passar o risco de jogar milhões de desempregados nas ruas das cidades do país.

O presidente da China, Xi Jinping, prometeu as tradicionais reformas econômicas em seu discurso no congresso do PCC.

Sem boas opções

No exposição de exórdio do 19º congresso do Partido Comunista Chinês, Xi fez as promessas de sempre sobre aprofundamento das reformas econômicas, redução da capacidade industrial excedente e mudança de uma economia de investimentos para uma economia de serviços. Como essas promessas não são novas, há motivos para ceticismo.

Mas, mesmo que as reformas sejam muito-sucedidas, vai possuir um grande número de "galhos nus" sem ofício. É por isso que a reestruturação econômica tem de ser acompanhada por benefícios trabalhistas generosos, programas de capacitação e escora para os trabalhadores que têm de se mudar para encontrar tarefa. A composição de gênero do setor de serviços também tem de mudar para aspirar os homens desempregados.

Em resumo, Xi pode delongar as reformas, mantendo os "galhos nus" trabalhando – mas com o país correndo o risco de crise econômica e de retaliações comerciais por secção de parceiros porquê os Estados Unidos. Ou ele pode trinchar investimentos e fechar milhares de fábricas, criando um risco significativo de tensões domésticas – que teriam de ser contidas com um misto de rede de segurança social reforçada e repressão política.

Qualquer que seja o rumo escolhido, Xi vai encontrar "galhos nus" pelo caminho.

Fonte: HuffPost Brasil Athena2