Se réu não pode, quem poderia ser presidente?

 

poderes1 Se réu não pode, quem poderia ser presidente?

A Praça dos Três Poderes coberta por nuvens escuras (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

A seguir nesta trilha, estamos caminhando celeremente para um engavetamento institucional dos poderes em Brasília, de proporções imprevisíveis.

S Supremo Tribunal Federal, sempre ele, deve finalmente deliberar nesta quarta-feira uma questão crucial que vem se arrastando desde o ano pretérito: se réus podem ou não assumir a Presidência da República em caso de impedimento do titular.

Vejam porquê está a situação às vésperas das eleições dos novos presidentes da Câmara e do Senado marcadas para esta semana:

* Na Câmara, apesar da reviravolta dos últimos dias, Rodrigo Maia, candidato à reeleição bem por dez partidos, continua predilecto. Maia é o "Botafogo" na lista de delatados da Odebrecht, que pode ter o sigilo quebrado nos próximos dias.

* No Senado, Eunício Oliveira é praticamente candidato único à sucessão de Renan Calheiros.  Eunício é o "Índio" na mesma lista.

Como não temos vice-presidente, Maia e Eunício, nesta ordem, são os primeiros na risco sucessória.

Se os dois ficarem impedidos de assumir, a depender dos desdobramentos da Lava Jato em seguida a mega-delação dos 77 executivos da Odebrecht, quem sobra?

Bingo: a presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia, ficha limpíssima, terceira na risca sucessória, nas mãos de quem estão as decisões importantes do País neste momento.

Qualquer que seja o desfecho deste imbroglio inimaginável, o simples trajo de podermos ter sub-judice os presidentes da República (o "MT" na lista da empreiteira), da Câmara e do Senado, já mostra a fragilidade do nosso sistema político.

Longe de mim imaginar que Carmem Lúcia tenha qualquer interesse pessoal num desfecho dramático que a ligeiro a assumir nascente abacaxi, mas isto pode ocorrer.

Neste caso extremo, só lhe restaria convocar eleições gerais imediatas para a Presidência da República e o Congresso, alguma coisa que parecia inimaginável até pouco tempo detrás, mas que agora já não é impossível, se não houver outra saída.

Para se ter uma teoria do clima de barata-voa e salve-se-quem-puder em Brasília, já tem gente no governo achando melhor que o sigilo das delações seja quebrado de uma vez, porquê mostra a reportagem "Após homologação, Planalto revela impaciência com impacto das delações da Odebrecht", publicada em S Globo desta terça-feira.

"Vazamento seletivo é roleta russa, você nunca sabe quem vai ser atingido. Isso deixa o governo sangrando, atrapalha a economia do país e a agenda de votações _ diz um assessor presidencial".

Segundo o jornal, "o presidente tem dito internamente que gostaria que todas as acusações viessem à tona de uma vez para fazer rapidamente as mudanças necessárias na Esplanada e no Planalto para, logo, tocar o governo".

A esfera agora está com o procurador-universal da República, Rodrigo Janot, que deve pedir a quebra do sigilo das delações ao novo relator da Lava Jato a ser indicado pelo STF, provavelmente por sorteio.

Ou seja, chegamos a um ponto em que tudo vai depender da sorte (ou do contratempo) na roleta do STF que vai definir o sorte da Lava Jato e da escol política do país _ e de todos nós.

Apertem os cintos.

E seja o que Deus quiser.

Vida que segue.

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Fonte: Ricardo Kotscho