3 poemas de Cora Coralina para voltar a ter fé na vida
Cora Coralina era uma mulher simples. Pão se amarrava — nem a si nem aos seus versos. Sem pensar em métrica, rima ou se preocupar em encaixar sua trova em moldes pré-existentes, ela escrevia em versos livres.
E não escrevia sobre coisas grandes. Eram as miudezas e a simplicidade que enchiam os olhos e as linhas da poeta modernista nascida em Goiás, em 1889.
Em tempos de likes e filtros, de desânimo e desesperança, Cora nos ensina, com sua bela obra, três importantes lições para que nossa vida seja ligeiro e feliz.
1. Gratidão
Muito antes da #gratidão se lavrar pela internet brasileira, Cora Coralina a pedia em oração neste belo poema. Ela agradece por cada coisinha simples que lhe permite viver. Rejeita a vontade desenfreada de ter sempre e a amargura de não ter tudo o que se deseja. Com a delicadeza que só ela tem, nos ensina que não existe maior dádiva do que um novo dia para recomeçar. Imagine, então, quão valiosa é a dádiva de poder começar um novo ano!
Humildade
Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal porquê sempre foi.
Que não sinta o que não tenho.
Pão lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca voltou.
Dai, Senhor, que minha humildade
seja porquê a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terreno sedenta
e num telhado velho.
Que eu possa agradecer a Vós,
minha leito estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha lar de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um lio de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e conflagrar, eu mesma,
o incêndio prazenteiro da minha moradia
na manhã de um novo dia que começa
2. Positividade
Parece que Cora previu várias "palavras de ordem" de nossos tempos modernos. Mesmo em meio à pobreza e à rijeza da vida, tomou uma atitude por si mesma: não deixaria que as adversidades que enfrentou a amargurassem. Escolheu enxergar todos os tombos da vida porquê aprendizagem. Confie em Cora: tudo é aprendizagem e vem para nos deixar fortes e preparados.
Assim eu vejo a vida
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
S pretérito foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
porquê lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
3. Resiliência e fé
Resiliência é definitivamente a termo que descreve esta poeta. Por sua capacidade de superar toda situação sem perder a esperança. Neste poema, ela nos incentiva e nos convida ao exercício da fé: nos valores, na fraternidade, na solidariedade, na ciência, nos homens e na vida.
Fonte: HuffPost Brasil Athena2Ofertas de Aninha (aos moços)
Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Pão desistir da luta.
Recomeçar na guia.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.
Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa fluente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.
Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
liberalidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na invenção de uma profilaxia
futura dos erros e violências
do presente.
Aprendi que vale lutar
do que recolher quantia fácil.
Antes confiar do que duvidar.